O CAMPO DE CONCENTRAÇÃO DE 1932 EM ESCULTURAS
A exposição de esculturas FLAGELADOS DA BARRAGEM foi inspirada no fato histórico ocorrido em Senador Pompeu, no ano de 1932, onde milhares de flagelados da seca foram confinados em uma espécie de campo de concentração. Devido às péssimas condições de higiene e alimentação de má qualidade uma doença atacou as pessoas que estavam no campo de concentração e ceifou milhares de vidas de sertanejos. Eram gritos e lamentos de dor, dia e noite. Ninguém podia sair do campo de concentração, por ordem do governo da época, para que os flagelados não invadissem a capital Fortaleza. O local onde foi instalado o campo de concentração era um antigo canteiro de obras que fora edificado pelos ingleses na década de 20 do século passado, para servirem de apoio na construção da Barragem do Patu, que teve suas obras paralisadas no ano de 1923. Um lugar estratégico, no centro do Ceará, com uma ramificação da ferrovia que ligava Fortaleza ao sul do Estado e distante 3 km da sede do município de Senador Pompeu. Hoje parte do local é considerado sagrado. Pessoas da comunidade fazem promessas e dizem alcançar graças por intermédio das almas da barragem que tanto sofreram em vida. Há até uma peregrinarão todos os anos para o campo santo em homenagem às almas da barragem, a caminhada da seca.
Conhecedores dessa história, os escultores Vamirez e Máximo, pertencentes à Oficina de Artes Padre Albino Donatti, resolveram criar e estruturar uma exposição de esculturas em madeira com temática FLAGELADOS BARRAGEM. Mais que uma exposição de esculturas, é um olhar dos artistas, suas impressões de um fato que marcou a história de Senado Pompeu e do Ceará. Partindo do imaginário popular, da crença nas almas da barragem e do fato em si, nasceu a idéia de se montar uma exposição de esculturas em madeira visando mostrar os horrores do campo de concentração de 1932. Um mergulha no fato histórico, no mito das santas almas sofridas da barragem, um misto do regional com o surreal dando formas às esculturas que levam a questionamentos, para que fato não fique esquecido, mas que venha ser lembrado para que o que já houve naquele local nuca mais venha acontecer.
OFICINA DE ARTES PADRE ALBINO DONATTI
Com uma trajetória de 27 anos, a Oficina de Artes Padre Albino Donatti, tem fundamental importância para as artes plásticas em Senador Pompeu. Nasceu do ideal do Padre Italiano Albino Donatti que tinha a intenção de transformar a vida de jovens de Senador Pompeu proporcionando a eles uma profissão. E encontrou na arte um caminho para a concretização do seu ideal. Assim criou a escolinha de arte, em princípio denomina Cirilo Dell’Antonio que capacitou mais de 20 jovens nas áreas de escultura em madeira, desenho e pintura.
Hoje denominada Oficina de Artes Padre Albino Donatti, em homenagem ao seu fundador é tocada por dois de seus veteranos alunos Vamirez Argemiro e Máximo Ferreira. Dois escultores que sobrevivem de arte em meio ao sertão semiárido, principalmente arte sacra.
Mas, os dois artistas não se limitam apenas a fazer obras por encomenda, que é o que os mantém economicamente. Também criam, participam de exposições, de concursos e já ganharam prêmios e homenagens pelo trabalho.
Através do VII Edital Prêmio de Incentivo às Artes da Secretária da Cultura do Estado do Ceará – SECULT, apresentam mais um trabalho que vai marcar a história da arte de Senador Pompeu, pois o campo de concentração já foi tema para roteiro de cinema, exposição de fotografias, livros, poemas, pinturas e agora uma exposição de esculturas. Extraída da história, do imaginário do povo, da criatividade artística, obras de arte que retratam um fato histórico marcante na história do Ceará, ao tempo em que as imagens proporcionam aos espectadores reflexões sobre o fato histórico, a forma como aconteceu e como se podem evitar erros semelhantes.
É um trabalho artístico de grande importância para a comunidade de Senador Pompeu e para as artes visuais do Ceará.
A arte ao lado da religiosidade tem sido um importante mecanismo de divulgação do fato histórico Campo de Concentração de flagelados da seca de 1932, um elo entre a memória e a comunidade. Teatro, dança, música, literatura, audiovisual, artes plásticas, fotografia.
Desde os anos 90, quando da existência da Equipe Cultural 1922, que o foto histórico e a luta pela preservação vieram à tona, a história passou a chamar a atenção dos artistas locais. A história do Campo de Concentração, os Casarões da Barragem, a Caminhada da Seca, a Religiosidade Popular, a serra do Patu e a própria barragem são elementos inspiradores dos artistas locais.
Dada a importância do tema, a relação com a história local e a questão da identidade cultural a história do entorno dos casarões da barragem tem sido inspiradora para os artistas. E arte tem sido um importante mecanismo, no processo de divulgação, valorização e de construção da identidade cultural do município. O olhar crítico do artista, a sensibilidade que transforma o fato trágico em obras de pura beleza.
É o artista com sua criatividade, com o olhar além, que vem contribuindo para o resgate da história e para difusão, impulsionando o movimento pela preservação. A arte tem sido muito importante no sentindo de criar um vínculo entre a comunidade e o patrimônio cultural.
FLAGELADOS DA BARRAGEM
É o artista dando forma à madeira, em sincronia com a tragédia. A concentração de traços, curvas surreais, representando a concentração de flagelados do ano de 1932 em Senador Pompeu-CE.O sofrimento e a dor de milhares de sertanejos transpostos para a madeira, o grito do corpo, as lágrimas riscadas num retrato crítico e provocante.
FLAGELADOS DA BARRAGEM, enquanto obra de arte é o grito dos flagelados, da imagem da tragédia que vaga sertão a fora. Do lamento do retirante, que de si, foi tirada a dignidade, restando-lhe a fome, a doença e a morte.
É o choro da imagem e a dor do movimento se transformando no gritoda esperança. As curvas na madeira, a suavidade das sombras, desenhados em consonância com a paisagem, os galhos, as pedras, os casarões, a serra do Patu, a caminhada da seca, o cemitério da barragem, as águas da barragem, a natureza do sertão, que são setas de um novo mundo, de uma nova direção.
